sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Sobre inhos e nhãos

Eu sou um mundo de mundinhos. Eu sou um mundinho insano, um mundinho de vergonha, um mundinho de inconstâncias. Eu sou um mundinho de dúvidas e de erros ao mesmo tempo em que sou um mundinho de alegrias e paixões certeiras. Meus mundinhos que foram colocados em regime de apartheid não por preconceito burro, mas porque se colidirem vão aumentar minha temperatura. E eu já sou tão quente por dentro que eu poderia viver pra sempre como um boneco de neve que nem teria hipotermia. Eu tenho coleções de calor de carinhos, de rostos colados, de abraços de ursos. Eu quase implodo mesmo que implodir não se conjugue em primeira pessoa. Meus mundinhos são tão eu’s que também foram privados por limites e odeiam essa palavra. Meus mundinhos são tão eu’s que até eles gostam dessa coisa tola de diminutivos.

Eu fui acostumada nos “inhos” mesmo. Foram vários. E esses vários que se fizeram motivos das minhas lágrimas, meus sorrisos bobos e meus absurdos. Sempre tive um “inho” na minha vida, e tenho agora. “Inhos” que duraram 3 horas ou 3 anos, mas sempre teve. Uns eu perdi porque queriam que eu ficasse demais. Outros, porque queriam que eu ficasse de menos. “Inhos” que são mais “ãos” que qualquer outra coisa. Mas que são tão “inhos” em G, B, D, C... que eu vou deixando eles se ocuparem do meu alfabeto inteiro. Eu só quero um espacinho que diferencie aquela letrinha que anda presente no meu mundinho de sonhos, pra eu não confundi-la mais com outras alturas ou barbas mal-feitas. Aquela que eu já amava mesmo antes de conhecer e que ocupou ao mesmo tempo o A e o B do meu alfabeto tão curtinho. E eu que gostava de espaços grandãos, colocando sempre um “ão” em tudo, passei a gostar só de um cantinho da cama grandona. Um cantinho tão “inho” que nunca foi tão “ão” em tudo que eu já havia sentido.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Dos Pseudos Encontros

Olho pro lado. Procuro em cantos, bares, turmas. Não, não és tu. São apenas espasmos de loucura daqueles que já conheces. Eu sei que não estás aqui, eu sei da impossibilidade do acaso nosso, eu sei da tua vontade de subir um pouquinho de estado, eu sei que teu canto agora é outro. Mas eu ainda tenho ilusões, sabe. Daquelas que não querias que eu tivesse, mas tenho.

Eu vou te procurando e confundindo pernas longas com braços longos. Eu procuro demais e, bem no fundinho, eu ainda acredito naquela tal citação de que quem procura acha. E eu nunca tive tanta vontade de achar. Nem quando eu esqueci o lugar da chave; nem quando perdi o brinco preferido da minha mãe; nem quando meu cachorro fugiu, talvez pelo mesmo motivo que tu. Talvez pelo fato de eu te querer tanto que nunca quis tanto na minha vida. Foi tanto querer que eu me engasguei com o medo da rejeição. Foi uma coisa doida e eu também nunca quis tanto não sentir isso. Não sentir tudo isso. Essa sucessão de sentimentos que me diminui. Que me faz inválida e me incita a pôr tudo fora.

Ah... Se soubesses o quão fácil é te confundir com outras pessoas. O quão fácil é tentar me apaixonar à primeira vista pensando que és tu com todo aquele carinho de sempre. Me apaixonar à primeira vista com a esperança de ter sempre aquele nosso primeiro beijo. Mas o gosto nunca é o mesmo. Eles não são tu e minha entrega nunca foi completa. Nem quando quis muito, nem quando a paixão perdeu o juízo.

Eu jogo fora esses tais. Eu sei que te perdi por conta dessa minha mania megalomaníaca de te querer inteiro, mas também sei que perco todas as outras coisas pela mesma mania. No mínimo eu perdi um último beijo, porque o último mesmo foi com vontade demais e eu ainda achava que era o primeiro.

Eu achei que tudo era cedo pra terminar e tu achavas que era cedo pra começar. Eu achei que era cedo pra começar a fazer minhas esquisitices bobas e, dessa única vez, concordasses comigo me censurando. E eu fiz a maior de todas as esquisitices que alguém poderia imaginar, esquisitices com um certo consentimento teu que eu não suportava. Era um não suportar insuportavelmente encorajador. Um não suportar que me fez sair de mim e esquecer de mim. Um não suportar tão grande que me fez muda. Me fez perder a vontade de negar pro que eu não queria e aceitei tudo de uma vez. Aceitei esse turbilhão de mundos e acontecimentos num só segundo. Provei incansáveis gostos e prazeres, incontáveis festas, incomensuráveis amizades, inesquecíveis momentos. Tudo foi bom demais, e sempre é.

Eu não perdi a vontade de viver só porque não ganhei mais potes de mel que me faziam doce todas as manhãs. Eu só gostaria que estivesses junto. Eu queria, entre tantas gargalhadas, provocar a tua.

É simples, assim. Não te procuro por dores ou carências, mas por simples explosões de alegria que seriam mais alegres se estivesses perto. Que seriam mais aproveitadas se eu não confundisse olhos e alturas máximas. Que seriam muito mais reais que “pseudos” e muito mais verdadeiras que qualquer outro radical grego que signifique falso. Eu cansei de te pseudo-encontrar nas minhas imaginações.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Um não ao mestre.

Sabe, eu ando amando tanto que decidi parar com essa história toda de amar. Sei lá, mas não quero concorda com a frase típica rodriguiana de que não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo.
É que, até agora, só provei doses homeopáticas de felicidade que nunca me curaram. Sempre usei o amor em doses máximas, em superdosagens que me causavam overdoses. Overdoses de pura insanidade, palavra tão sinônima do amor. Em contrapartida, a abstinência me causava tremores de medo, lágrimas hemorrágicas, desejos intrépidos. E vinha a felicidade insuficiente de excessos que não satisfaziam. Vinha a saudade nostálgica e a vontade insensata pra controlar esse tumulto de idéias. Esse tumulto de confusões de peles, braços, bocas. Esse tumulto que me roubava conceitos e me libertava das minhas palavras neuróticas. Esse tumulto que me deixava vazia de tudo e tentava esvaziar até o que eu sentia.
Lêdo engano! Tanto esforço pra expulsar tudo que se passava num coração instável de fragilidades e tudo em vão. Enfraquecida, desisti e entreguei meu corpo ao avesso. Ofereci minha alma pro nada, que se aprosionou no nada.
Agora, aqui, convivendo com o nada, com a cautela, com a casualidade torpe. E, mesmo assim, não tô feliz. Será que eu, inconscientemente, continuo abusando do amor e só mudei os personagens? Sim, eu sinto falta sim. Sinto falta dessa entrega covarde que me devasta e destrói inteira. Mas, a falta é dotada de tanta insensatez, que não me acalma nem quando me cansa. É que, sabe, falta amor. Falta, sabe. Ele falta. Ele me furtava tudo ao mesmo tempo e não me deixava as sobras que me fazem insatisfeita. Mas, de tanto esvaziar e transbordar bruscamente, eu não tive mais forças e decidi entregar só metade do que pudia pra quem não pudia. Só que, agora, tô transbordando tanto de metades que preciso esvaziar tudo de uma vez. E, ele, agora, não volta. Fazer voltar? Não, amor não se pede. Amor se cultiva e ele nunca cultivou. Agora, o personagem muda, falta amor e a alma se excede porque não se doa, sufoca. O personagem mudou, mas o amor não, a casa não, o coelho não. Tudo espera por uma volta repentina, tomada de extraordinária impossibilidade. Mas o personagem mudou, e agora quem volta não é ele.
Mas, quer saber? Que volte só a felicidade antes conhecida que, sem amor, pode se manifestar sem preceitos. Ela tem que voltar! Eu preciso que ela volte e eu a prenda comigo. Assim, pode ser que eu ame o outro pelo simples fato de deparar com a felicidade nos meus olhos.
É, eu vou provar, sim, que nosso amigo Nelson estava errado. Amor e felicidade hão de andar de mãos dadas!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Moinho de hoje.

Hoje eu chorei, de novo.
Hoje, eu pensei nos meus medos, nas minhas angústias, na minha felicidade. Hoje, eu vi que a felicidade não se procura, à felicidade atribui-se valor. Ela sempre existiu. Nas minas agonias, nas minhas confusões, nos meus erros, no meu pranto... ela sempre existiu.
Eu nunca a percebi. Nos piores momentos ela vem e me leva à tona. Nos piores momentos, ela só tenta invadir meu coração que insisto em botar alguém. Eu deixei ela entrar por alguns milésimos de segundo e, o alguém, hoje, saiu. Eu expulsei, eu chorei, eu me perdi. Eu menti. Eu quis. Eu falei pra sempre, aquele pra sempre que sempre dura dois segundos. Ou o suficiente pra terminar esse pseudotexto.
Hoje, as idéias esvaziam-se junto com as lágrimas, que correm em desalinho. Correm desesperadas pra encontrar uma razão, uma razão que não existe. Elas se perdem e me encontram, tão perdida quanto.
Hoje, lá no fundinho, eu rezei, fiz manha, fiz birra, implorei em desespero pra que Deus me enviasse uma máquina do tempo. Hoje, assim como todos os dias, eu pedi perdão e tentei justificar os erros pra mim mesma. Meus erros que já não são mais erros. Hoje, o certo morreu como nunca. Hoje, eu acreditei que um dia voltaria a valer a pena. Que o mel voltaria a ser doce. Que lutar pelo meu, valia a pena. Que, um dia, ele voltaria alto e de sorriso fino e grande, pra não caber mais na cama. Mas ele já não vem mais, não traz mais nada, só deixou o vazio que não veio buscar. Só eu ainda não entendi que ele não vem. Vou fazer forças sobreumanas pra acreditar que ele se perdeu no caminho ou que o porteiro o mandou embora. Eu espero o impossível, porque minha vida é cheia de impossibilidades. Cheia de ironias rodriguianas, cheia de casos perdidos que não me deixam sozinha. Cheia de inconvenientes, de contradições, de bastas e chegas.
E, hoje, eu disse chega! Chega de saudade, chega de amor, chega de evasão, chega de palavras que não existem. Chega de paixões que não retribuem. Chega de prantos, de emoção, de vida insana. Chega de cargas mortais de itensidade. Chega de emoções em chamas.
Hoje, eu concordei com Cartola. E percebi que meu mundo virou um moinho.

"Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar.

Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida, em cada esquina cai um pouco a tua vida, e em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça me bem amor, presta atenção o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó.

Presta atenção querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estás a beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés."

domingo, fevereiro 04, 2007

Retalhinhos de Vida

Sustento uma sensação estranha. Vasculho, reviro gavetas, bolso de calças e bolsas velhas, cd’s, filmes, maçãs, potes de mel e...
Caixinhas de laços vermelhos!!!
Ei, tu! Tu mesmo. Dá pra me devolver a vontade de dançar no meio da chuva com a maior despreocupação do mundo? Dá pra, de novo, me fazer dormir três horas por dia e acordar com um sorriso gigante numa disposição invejada? Dá pra trazer meus sonhos coloquiais de volta junto com teus sonhos em sentido estrito pra vê se dá de reuni tanta gente da família aqui? Dá pra me deixar idiota novamente a ponto de assistir pseudo-comédias-estúpido-romântico-hollywoodianas e acreditar que sou uma dessas adolescentes que acabam indo viver suas vidinhas, totalmente felizes e satisfeitas, medíocres e pra sempre?
Será que bem aí no teu fundinho tu não encontras e, se não for dar trabalho, me devolves a parte do meu coração mordida, mastigada e cuspida? Vai, vai que eu sei que ela ta contigo, afinal, ele tava tão inteiro antes de chegares que nem permiti que alguém chegasse perto. Abri uma exceçãozinha e olha só no que deu! Tens certeza de que não lembras de me anestesiares covardemente com tanto carinho pra demorar a voltar à realidade e sentir dor? É, podes ter levado por engano mesmo. Um brinquedinho que deve ter engalhado na tua roupa e grudado em ti igual carrapato. Mas ele ta aí, sim! Tão pequeninho e indefeso. Cheio de retalhos. Não vê que assim eu não agüento?
Nem lembro quem falou, mas eu sou a prova viva daquele velho pensamento que diz que, quando a gente nasce, já começa a morrer. E, eu, to sucumbindo. Desde que as primeiras borboletinhas pousaram na minha barriga eu descuidei da minha alma. Entreguei-a pro mundo e deixei os estranhos tomarem conta. De repente, percebi o erro, ou acerto, de confiar demais no que senti. Cada um foi levando uma parte e nem se importou como eu ficaria se meu coração morresse. O pior é que ele já ultrapassou o limite de tamanho pra tanta emoção. Tô em estado de alerta e preciso de um transplante. Mas, não. Não quero o coração nem os sentimentos dos outros. Fui sempre tão feliz com o meu próprio amor que, longe de ser amor-próprio, é absurdamente generoso e exagerado e, ainda, acompanhou o meu ritmo de vida intensa, bombeando paixão intensa em ritmos descompassados sem precisar de desfibrilador. Não, não quero minha vida de outro jeito. Tô bem assim e, quer saber? Vou buscar cada partezinha dele e fazer remendos. Se der certo ou não, eu ainda vou deixar me arrancarem mais pedacinhos, porque, a anestesia é a melhor parte de tudo e compensa todos os riscos.
É assim. Eu vou continuar morrendo de amores por ai, sem lágrimas e lamentações. A dor é intensa e eu nem sinto. Que venha depois. Mas, só depois: preciso muito desfrutar do meu momento “dopping” primeiro. O depois do depois já nem me importa. Afinal, minha vida sem emoções gigantes não tem sentido algum. E... morrer não dói!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Eu quero entrar em ebulição.

Tá na hora de escrever. Tentar engolir o turbilhão de palavras desconexas só vão me fazer vomitar. Vomitar de uma vez por todas que não, eu não tô feliz. E, se tá pensando em continuar lendo, engula uma avalanche de compreensão, mas não vomite, por favor. De ânsias e náuseas já basta minha vida.

A metade tem assumido muito meus dias, mas eu não agüento mais ver meu mundo repartido, meu mundo pirado. Pera lá, de maluca já basta eu! Confusões a parte, não libero as minhas pra ninguém, não. Elas, não reparto de jeito nenhum, e nem meus pensamentos inteiros, idéias noturnas ou paixões descabidas. Pode me chamar de egoísta, mas pra mim as coisas só valem se forem completas. Que adianta ver meio filme, ser meio inteligente, ler meio livro, ouvir “meia” música (essa não combinava com meio), ser meio bonita, tomar meio copo de suco? Ah, fracamente! Que me perdoem os saciados, mas nem dá vontade de ter vontade disso tudo. Eu quero entender o filme, inventar um mundo, embriagar-me de palavras, degustar toda a música, atrair olhares, engasgar com o suco de laranja não coado. Eu tenho sede de mundo e não vejo sossego enquanto tomar um porre. Tenho fome de tudo e não há ansiolítico que me tire a gula e ter uma puta indigestão. Sofro de abstinência das paixões e ai de quem vir me socorrer da overdose. Quero o máximo de tudo. Até meus erros são máximos, porque, na verdade, eu acho o máximo as gargalhadas espontâneas que eles geram. Que graça tem riscar uma placa? Se é pra ser fora da lei, que seja por inteira: destrua a placa e leve os cones.

Se for pra envolver, que envolva inteiro, embrulhe, faça um laço vermelho e deixe explodir. Deixa que se espalhem as emoções por ai, quem sabe contagia os comuns e rotineiros. Quem sabe, a normalidade passe a ser pejorativa e as pessoas não se amem mais pela metade. Amor só vale se for grande e completo. Eu nego, ultrapassando os limites da minha força, a casualidade branda e a vontade pura sem emoções. Não vejo saciedade num mero desejo de amor machucado. A saciedade existe quando o desejo se torna insano, o amor insuportável e o machucado uma hemorragia. Isso sim é aproveitar o momento e encher os pulmões pra falar “carpe diem”, não é um salto de bungee jump que te fazer correr riscos. O que te faz vulnerável é a dor da perda e a certeza de que não volta, é a possibilidade impossível de ter esperanças, é jogar deixar tuas manias de lado pra dar lugar às borboletinhas alvoroçadas, é deixar que o outro seja uma aquarela e pinte teu mundo de cores quentes. E torne tua vida quente. Tão quente que tu vives vermelho de paixão, paixão que arde, que sangra, que liberta. Que te faças viver em ebulição, explodindo de tanto amor.