Tá na hora de escrever. Tentar engolir o turbilhão de palavras desconexas só vão me fazer vomitar. Vomitar de uma vez por todas que não, eu não tô feliz. E, se tá pensando em continuar lendo, engula uma avalanche de compreensão, mas não vomite, por favor. De ânsias e náuseas já basta minha vida.
A metade tem assumido muito meus dias, mas eu não agüento mais ver meu mundo repartido, meu mundo pirado. Pera lá, de maluca já basta eu! Confusões a parte, não libero as minhas pra ninguém, não. Elas, não reparto de jeito nenhum, e nem meus pensamentos inteiros, idéias noturnas ou paixões descabidas. Pode me chamar de egoísta, mas pra mim as coisas só valem se forem completas. Que adianta ver meio filme, ser meio inteligente, ler meio livro, ouvir “meia” música (essa não combinava com meio), ser meio bonita, tomar meio copo de suco? Ah, fracamente! Que me perdoem os saciados, mas nem dá vontade de ter vontade disso tudo. Eu quero entender o filme, inventar um mundo, embriagar-me de palavras, degustar toda a música, atrair olhares, engasgar com o suco de laranja não coado. Eu tenho sede de mundo e não vejo sossego enquanto tomar um porre. Tenho fome de tudo e não há ansiolítico que me tire a gula e ter uma puta indigestão. Sofro de abstinência das paixões e ai de quem vir me socorrer da overdose. Quero o máximo de tudo. Até meus erros são máximos, porque, na verdade, eu acho o máximo as gargalhadas espontâneas que eles geram. Que graça tem riscar uma placa? Se é pra ser fora da lei, que seja por inteira: destrua a placa e leve os cones.
Se for pra envolver, que envolva inteiro, embrulhe, faça um laço vermelho e deixe explodir. Deixa que se espalhem as emoções por ai, quem sabe contagia os comuns e rotineiros. Quem sabe, a normalidade passe a ser pejorativa e as pessoas não se amem mais pela metade. Amor só vale se for grande e completo. Eu nego, ultrapassando os limites da minha força, a casualidade branda e a vontade pura sem emoções. Não vejo saciedade num mero desejo de amor machucado. A saciedade existe quando o desejo se torna insano, o amor insuportável e o machucado uma hemorragia. Isso sim é aproveitar o momento e encher os pulmões pra falar “carpe diem”, não é um salto de bungee jump que te fazer correr riscos. O que te faz vulnerável é a dor da perda e a certeza de que não volta, é a possibilidade impossível de ter esperanças, é jogar deixar tuas manias de lado pra dar lugar às borboletinhas alvoroçadas, é deixar que o outro seja uma aquarela e pinte teu mundo de cores quentes. E torne tua vida quente. Tão quente que tu vives vermelho de paixão, paixão que arde, que sangra, que liberta. Que te faças viver em ebulição, explodindo de tanto amor.